Questões e respostas

Cruz processional

Na nossa igreja, atrás do altar temos uma cruz pintada a mosaico na janela central. Muitas vezes o pároco gosta de colocar no presbitério, a um metro do altar, uma cruz de madeira. No domingo, durante a procissão de entrada, um padre pediu que se coloque também a cruz astile ao lado do altar. Não deverá a cruz astile, depois da procissão de entrada, ser reposta na sacristia ao lado do presbitério e ser novamente usada na procissão de saída?

 

Para responder ao seu pedido de esclarecimento, começo por citar o Ritual das Bênçãos, que tem introduções muito ricas sobre diversas celebrações.

A propósito da importância da cruz exprime-se assim: «Entre as sagradas imagens, ocupa o primeiro lugar a representação da cruz preciosa e vivificante, que é o símbolo de todo o mistério pascal. Para o povo cristão, nenhuma outra imagem é mais querida, nenhuma é mais antiga. A santa cruz representa a paixão de Cristo e o seu triunfo sobre a morte e, ao mesmo tempo, como ensinaram os Santos Padres, anuncia a sua vinda gloriosa» (RB 960).

Sobre o lugar eminente da cruz na igreja e na vida dos fiéis afirma: «A imagem da cruz não só é proposta à veneração dos fiéis na Sexta-Feira Santa e celebrada como troféu de Cristo e árvore da vida na festa da Exaltação, a 14 de Setembro, mas está também em lugar eminente na igreja e coloca-se diante do povo sempre que ele se reúne para celebrar as acções sagradas e, além disso, ocupa um lugar nobre nas casas dos baptizados. Tendo em conta as circunstâncias do tempo e do lugar, com razão os fiéis erigem publicamen­te a cruz, para que seja testemunho da sua fé e sinal do amor de Deus para com todos os homens» (RB 961).

Pareceu-me oportuno transcrever estas afirmações, apesar de não responderem, por si sós, ao problema colocado pelo consulente. O que delas se conclui é isto: a cruz é o símbolo primordial para todos os cristãos.

Avancemos agora um pouco mais. Sabemos que o documento fundamental relativamente à celebração da Eucaristia é a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), que já teve várias edições: a primeira em 1969 e a última, bastante mais extensa do que a primeira, no ano 2000. É esta a edição que vou utilizar.


a) Uma só cruz, com o crucificado, de preferência junto do altar,
e que aí pode permanecer mesmo fora das acções litúrgicas


As normas da Instrução insistem na unicidade da cruz e na obrigatoriedade de ela ter a imagem de Cristo crucificado. Por isso, as outras cruzes, eventualmente presentes, devem, de preferência, ser guardadas num lugar digno, que em geral é a sacristia. Essa cruz pode permanecer junto do altar mesmo fora das celebrações.

Vou transcrever os vários números da Instrução que assim o determinam: «Sobre o altar ou perto dele, haja uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado» (IGMR 117); «A cruz com a imagem de Cristo crucificado e porventura levada na procissão pode colocar-se junto do altar, para se tornar a cruz do altar, que deve ser apenas uma, ou então seja guardada num lugar digno...» (IGMR 122); «Na procissão de entrada, o acólito pode levar a cruz... Chegando ao altar, põe a cruz junto dele, para se tornar a cruz do altar, ou então coloca-a num lugar digno...» (IGMR 188); «Sobre o altar ou junto dele coloca-se também uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado, que a assembleia possa ver bem. Convém que, mesmo fora das acções litúrgicas, permaneça junto do altar uma tal cruz, para recordar aos fiéis a paixão salvadora do Senhor» (IGMR 308)


b) Quando se incensa essa única cruz?


Essa cruz única pode ser incensada duas vezes, durante a celebração da Eucaristia. Transcrevem-se dois dos muitos números da Instrução que o referem. No final da procissão de entrada, «chegado ao presbitério..., se for oportuno, o sacerdote incensa a cruz e o altar» (IGMR 49); depois de colocar o pão e o cálice sobre o altar, «o sacerdote pode incensar os dons colocados sobre o altar, depois a cruz e o próprio altar...» (IGMR 75).


c) Como se incensa a cruz do altar?


Quando se usa o incenso, a cruz do altar é incensada duas vezes, como acabámos de dizer. E como se incensa? Com três ductos do turíbulo: «Incensa-se com três ductos do turíbulo... a cruz do altar... Se a cruz está sobre o altar ou junto dele, é incensada antes da incensação do altar; caso contrário, é incensada quando o sacerdote passa diante dela...» (IGMR 277).


d) Importância da cruz do altar e da procissão


À cruz do altar e àquela que é levada na procissão deve prestar-se a maior atenção: «Acima de tudo há-de prestar-se a maior atenção àquilo que, na celebração eucarística, está directamente relacionado com o altar, como são, por exemplo, a cruz do altar e a cruz que é levada na procissão» (IGMR 350).

Creio que as informações que se retiram do Ritual da Celebração das Bênçãos (1984) e da Instrução Geral do Missal Romano (2000) permitem ao consulente receber a luz sobre o problema litúrgico que o levou a escrever-nos.

Deus vos ajude a ultrapassar estes diferendos e a permanecer na paz de Cristo, que é um grande dom que podemos e devemos pedir.


Um colaborador do SNL