Questões e respostas

Momento da consagração

Diz-nos a IGMR que se deve estar, ordinariamente, de joelhos durante a consagração. Mas tenho dúvidas quanto ao exacto momento da consagração. Quando começa? Quando acaba? Parece-me importante esta questão... É que nas celebrações cria-se, por causa dessa imprecisão, tanto barulho, tanta dispersão durante a Oração eucarística, que incomoda e só distrai...

 

1. Começo por transcrever o texto exacto do n. 43 da IGMR: «[Os fiéis] estão de joelhos durante a consagração, excepto se razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote genuflecte após a consagração....».
Por outras palavras: à consagração todos ajoelham. No caso de alguma das razões invocadas impedir que alguém o faça, o acto de ajoelhar é substituído por duas inclinações profundas, coincidentes com as genuflexões do sacerdote após a consagração do pão e do cálice.
2. Uma vez que o n. 43 da Instrução geral, diz que os fiéis «estão de joelhos durante a consagração», seria de esperar que ela dissesse também quando é que a «consagração» começa e acaba. Isso evitaria muitas dúvidas. Não acontece porém assim.
De facto, em vez de falar do momento exacto da consagração, a Instrução prefere dizer que a consagração acontece ao longo da Oração eucarística, definida, no n. 78, como «uma oração de acção de graças e de consagração», que o mesmo é dizer: a Oração eucarística, no seu conjunto, da primeira à última palavra, é oração de acção de graças e de consagração.
3. O facto da Instrução dizer que toda a Oração eucarística é consagrante, não a impede de falar dos elementos que a compõem: «Como elementos principais da Oração eucarística, podem enumerar-
-se os seguintes...» (n. 79), nem de chamar a um deles, «narração da instituição e consagração» (n. 79 d).
Quando começa e acaba esse elemento narrativo e consagrante? Começa com a primeira palavra da narração da instituição e termina com a elevação do cálice e sua adoração pelo povo, uma vez que o n. 151 da IGMR diz que as palavras Mistério da fé e a aclamação do povo Anunciamos Senhor, a vossa morte..., vêm a seguir à consagração. Se vêm a seguir é porque a consagração já terminou.
Conclusão: embora a Oração eucarística seja toda ela oração de acção de graças e de consagração, a Instrução geral diz que um dos seus elementos é de consagração em sentido específico. Penso que é durante esse elemento específico de narração da instituição e consagração que se deve estar de joelhos, ou seja, desde o início da narração da instituição até ao fim da elevação do cálice.
4. Há quem tenha opinião diferente, e afirme que a consagração começa com a epiclese, que é o elemento imediatamente anterior à narração da instituição. Pela minha parte, com base nas próprias palavras da Instrução, penso de outro modo. Com efeito, diz o n. 79 c): « [A] epiclese consta de invocações especiais, pelas quais a Igreja implora o poder do Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelos homens sejam consagrados, isto é, se tornem no Corpo e Sangue de Cristo...». Deduzo daqui, que a epiclese é o elemento de invocação do poder do Espírito Santo, para que os dons venham a ser consagrados... e não directamente o elemento de consagração. Este é o que tem por nome narração da instituição e consagração, que acontece pelo poder do Espírito e pelas palavras de Jesus: «Tomai e comei... tomai e bebei».
É certo que o n. 179 da Instrução parece dar razão aos que afirmam que a consagração começa com a epiclese, pois aí se diz: «Desde a epiclese até à ostensão do cálice, o diácono permanece habitualmente de joelhos».
Porém, a propósito deste texto, chamo a atenção para o seguinte: é a primeira vez que isto se diz na Instrução geral; nunca se disse anteriormente e não se diz em mais parte nenhuma; os termos em que se diz não são absolutos (permanece habitualmente); e, por último, é a própria IGMR que chama consagração a determinado elemento da Oração eucarística, mas não o chama à epiclese.
5. Como é fácil de perceber, enquanto a Instrução geral não disser com clareza quando começa e termina a consagração, vai haver lugar a opiniões e a práticas divergentes.
Temos de saber viver com elas..., como também temos de saber que há barulhos e dispersões durante a liturgia que são praticamente inevitáveis. Onde há muitas pessoas juntas, não se lhes pode exigir um silêncio absoluto. Haverá sempre alguém que tussa, uma criança que chora, um genuflexório que cai no chão com estrondo...
Cada participante terá de fazer apelo à sua ascese pessoal para superar esses “pequenos” inconvenientes... dando ainda por cima graças a Deus por estar numa tal assembleia e por ela ser assim.

Um colaborador do SNL.