Questões e respostas

Quem deve e pode ler?

Se possível gostaria que me esclarecessem acerca do seguinte: durante uma eucaristia do Crisma, da profissão de fé ou da primeira comunhão, as crianças e os jovens devem fazer as leituras? Podem fazê-las? O grupo de catequese, ao qual pertenço, foi informado de que as pessoas a quem se dirigem as celebrações, como são receptores da mensagem, não devem fazer leituras, o que tem gerado “conflitos” entre catequistas, pais... Qual é a vossa opinião? Obrigado pelo tempo disponibilizado para responder à minha dúvida.

 

Regra geral, as leituras da palavra de Deus nas Missas em que se celebram outros sacramentos ou nas quais têm lugar a primeira comunhão ou a profissão de fé, não devem ser feitas pelos que vão estar no centro de tais celebrações.

Penso que esta norma de bom senso pastoral tem a sua lógica, que nem é difícil de compreender. Quem vai comungar pela primeira vez ou receber outro sacramento dentro da celebração da Missa, deve ser, nesse dia, mais ouvinte da Palavra do que seu leitor. Se é bom leitor ou leitora, realize o seu ministério noutros dias. Os membros da assembleia cristã não devem querer fazer tudo o que nela acontece. Lê-se nas normas do Missal Romano: Na celebração da liturgia «todos, ministros ordenados ou fiéis cristãos leigos, ao desempenharem a sua função ou ofício, façam tudo e só o que lhes compete» (IGMR 91). Ora, o mais importante para aquele que vai receber pela primeira vez a Comunhão ou celebrar outro sacramento na Missa em que está a participar, é fazê-lo numa profunda união a Cristo.

Outra razão para agir deste modo, é esta: as crianças que vão comungar pela primeira vez, os adolescentes que se preparam para renovar as promessas baptismais, os jovens que vão ser confirmados ou os adultos que vão celebrar o seu casamento, têm tudo a ganhar em estar serenos. Por isso, quanto menos serviços litúrgicos tiverem de realizar, melhor. As responsabilidades trazem quase sempre consigo alguma ou muita agitação interior e exterior. Se for possível evitá-la, tanto melhor.

Acrescento, porém, que nas coisas da liturgia não deve haver rigidez. Pode acontecer que uma criança que vai fazer a primeira comunhão tenha um jeito especial para dizer uma poesia adaptada à circunstãncia, ou que uma jovem que vai ser crismada cante muito bem o salmo responsorial, ou que determinado jovem seja um óptimo leitor. Em tais casos, analise-se a situação e decida-se como parecer mais aconselhável.

É bom conhecermos as regras litúrgicas, quando existem. Mas também é bom que elas não nos inibam de inovar quando parecer conveniente. A vida está acima das normas. Mas estas também são boas, porque não nos deixam andar à deriva, como barcos sem leme, no meio do mar, fiados apenas na nossa sensibilidade ou parecer momentâneo.

Por isso, às duas perguntas sobre se os jovens e as crianças, nas situações enunciadas, devem fazer as leituras ou podem fazê-las, respondo assim: podem fazê-las em certas circunstâncias, mas não devem fazê-las sempre, como se isso fosse a forma ideal. O ideal é não as fazerem, embora o fazerem-nas possa ser bom e útil em certas circunstâncias. São os responsáveis que devem gerir os problemas que vão surgindo e tentar resolvê-los com inteligência, mas também numa atitude de grande fidelidade às normas litúrgicas. Quando essas normas são compreendidas, libertam-nos; quando não são compreendidas, podem tornar-nos escravos. Seja livre... mas seja também sensato ou sensata.


Um colaborador do SNL
(BPL 137-138)