Questões e respostas
Cobrir o altar com a tolha e adornar a igreja com flores na Vigília Pascal
Qual o momento próprio, na Vigília Pascal, para cobrir o altar com a toalha e adornar a igreja com flores?
Há certas perguntas litúrgicas para as quais não é fácil encontrar respostas. Aquelas que o nosso consulente nos faz pertencem a esse número. Não há, com efeito, texto nenhum saído da reforma litúrgica do II Concílio do Vaticano que diga, com clareza, qual o momento próprio, na Vigília Pascal, para cobrir o altar com a toalha e adornar a igreja com flores.
Comecemos pela toalha do altar. O Missal Romano em língua portuguesa (edição de altar de 1992) diz numa rubrica da pág. 280, no final da Sexta-Feira da Paixão do Senhor, após a Oração sobre o povo: «Todos se retiram em silêncio e, em tempo oportuno, desnuda-se o altar». A expressão tempo oportuno pode entender-se como aquele em que já não há fiéis na igreja. É então que o altar se desnuda. A nossa questão, porém, não é essa, mas a oposta, ou seja, quando se volta a cobrir o altar com a toalha.
Nessa mesma pág. 280, um pouco mais abaixo, vem outra rubrica que pode dar resposta indirecta à pergunta: «No Sábado Santo, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte. Abstém-se do sacrifício da Missa (a mesa sagrada continua despida) até ao momento em que, depois da solene Vigília ou expectativa nocturna da ressurreição, se dará lugar à alegria pascal, que na sua plenitude se prolonga por cinquenta dias...».
Será que a frase abstém-se do sacrifício da Missa poderá entender-se assim: «(A Igreja) abstém-se do sacrifício da Missa, e a mesa sagrada continua despida, até ao momento em que...»? Se assim for, temos aqui a resposta à pergunta sobre o momento em que o altar deve ser coberto com a toalha. Esse momento é aquele em que, terminada a oração universal da Vigília e com ela a Liturgia Baptismal dessa noite, começa a Liturgia Eucarística, com a rubrica: «O sacerdote dirige-se para o altar e dá início à liturgia eucarística na forma habitual» (MR, p. 323). A solicitude de duas cristãs da assembleia ou de duas acólitas em irem buscar à sacristia a toalha previamente preparada, para com ela adornarem o altar, é uma pausa muito oportuna a separar as duas partes da celebração da grande Vigília, e a valorizar, nessa noite, o gesto de tornar aquela mesa o mais semelhante possível à mesa da última Ceia, levantada no meio de uma sala alcatifada e pronta, no andar de cima da casa de um amigo de Jesus, em Jerusalém.
Venhamos à segunda pergunta: qual o momento próprio para adornar a igreja com flores? Começo por lembrar um documento de 30 de Novembro de 1955, publicado sob a autoridade do Papa Pio XII, que dá pelo nome de Ordo restaurado da Semana Santa. Aí se diz, no capítulo dedicada à Vigília Pascal, n. 29: «(Terminada a renovação das promessas baptismais, enquanto os ministros entram na sacristia e tomam os paramentos de cor branca), coloca-se o Círio pascal no seu supedâneo, no lado do Evangelho, prepara-se o altar para a Missa solene, acendem-se os círios e dispõem-se as flores».
Não se encontra, na Vigília Pascal do novo Missal Romano, nada que se refira às flores. Em contrapartida, na pág. 307 do mesmo Missal, diz-se assim no n. 31: «Depois da última leitura do Antigo Testamento com o salmo responsorial e a oração correspondente, acendem-se as velas do altar. O sacerdote entoa o hino Glória a Deus nas alturas, que é cantado por todos. Tocam-se os sinos, conforme os costumes locais».
Penso que este texto do Missal Romano se inspira no Ordo restaurado da Semana Santa, com excepção da referência às flores. Seria interessante saber a razão pela qual elas foram omitidas no Missal Romano. Apesar disso, parece-nos legítimo dar a seguinte resposta à pergunta do nosso consulente: o momento próprio para adornar a igreja com flores, na Vigília Pascal, parece ser aquele em que se acendem os círios (velas) e se tocam os sinos, ou seja, um pouco antes de o presidente dar início ao canto do Glória a Deus nas alturas.
Tal como dissemos relativamente à toalha, também as flores devem estar previamente preparadas na sacristia. Imediatamente após a última leitura do Antigo Testamento com o salmo responsorial e a sua oração, duas ou três cristãs colocam as flores nos lugares respectivos, enquanto alguns acólitos acendem os círios (velas).
Só depois de tudo preparado se deve dar início ao Glória a Deus nas alturas e ao toque dos sinos da igreja. Estas pequenas paragens, longe de perturbarem a celebração excepcional da Noite Santa, dão-lhe antes o seu cunho característico de “mãe de todas as Vigílias”, como gostava de dizer S. Agostinho.
Um colaborador do SNL
(BPL 139-140)