Santos

Santas Perpétua e Felicidade, mártires

 

Nota Histórica

Memória

Perpétua e Felicidade eram naturais de Cartago e foram presas, com outros jovens catecúmenos, na perseguição do imperador Setímio Severo. Perpétua, mulher de posição social, tinha perto de vinte e dois anos de idade e era mãe de uma criança de peito. Felicidade, sua escrava, estava grávida e, segundo as leis, devia ser conservada até dar à luz, mas, apesar das dores de parto, mostrava-se serena diante das feras. Foram batizadas no cárcere e passaram ambas do cárcere para o anfiteatro, de rosto alegre, seguras de que iam para o céu. Sofreram o martírio no ano 203.

 

Missa

Antífona de entrada
Alegram-se no céu as almas dos santos
que seguiram os passos de Cristo:
porque derramaram o sangue por seu amor,
com Cristo reinarão eternamente.

Oração coleta
Senhor nosso Deus,
em cujo amor as santas mártires Perpétua e Felicidade
encontraram a força para resistir aos seus perseguidores
e vencer os tormentos da morte,
concedei-nos, por sua intercessão,
a graça de Vos amar cada vez mais.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos.

Oração sobre as oblatas
Alegremente Vos oferecemos, Senhor, este sacrifício,
pelo qual proclamamos as vossas maravilhas,
ao recordar o glorioso triunfo das santas Perpétua e Felicidade,
e rejubilamos por nos terdes concedido tão poderosas intercessoras.
Por Cristo nosso Senhor.

Antífona da comunhão 2Cor 4, 11
A toda a hora somos entregues à morte por amor de Jesus,
para que se manifeste em nossa carne mortal a vida de Jesus.

Oração depois da comunhão
Senhor, que nos fazeis saborear as alegrias eternas,
pela participação neste sacramento,
ao recordarmos a memória das santas Perpétua e Felicidade,
fazei frutificar na nossa vida
o que celebramos nestes santos mistérios.
Por Cristo nosso Senhor.

 

Liturgia das Horas

Da narração do martírio dos santos Mártires de Cartago

(Cap. 18-21: edit. van Beek, Nimega, 1936. pp. 42.46-52) (Sec. III)

Chamados e escolhidos para glória do Senhor

Despontou o dia da vitória dos mártires, e vieram do cárcere até ao anfiteatro, como se fosse para o Céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha o rosto alterado, era de alegria e não de medo.
Perpétua foi a primeira a ser arremessada ao ar pela vaca brava, e caiu de costas no chão. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, aproximou-se, estendeu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Perpétua foi aí acolhida por um certo catecúmeno, chamado Rústico, que permanecia sempre ao seu lado; e como se acordasse do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito) começou a olhar à volta e, para espanto de todos, perguntou: «Quando é que seremos expostas à tal vaca?». Quando lhe disseram que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no seu corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Chamou então para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno e disse-lhes: «Permanecei firmes na fé, amai-vos uns aos outros e não vos perturbeis com os nossos sofrimentos».
Por sua vez, Saturo, noutra porta do anfiteatro, exortava o soldado Pudente com estas palavras: «Até agora, tal como te tinha afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Acredita portanto agora de todo o coração: agora vou avançar de novo para ali e serei abatido com uma única mordedura de leopardo». E imediatamente, já quase no fim do espectáculo, foi lançado a um leopardo, e com um só golpe ficou coberto de tanto sangue que o povo, sem saber o que dizia, dava testemunho do seu segundo baptismo, aclamando: «Foste lavado, estás salvo. Foste lavado, estás salvo!». E na verdade estava salvo quem de tal modo fora lavado.
Saturo disse então ao soldado Pudente: «Adeus. Lembra-te da fé e de mim, e que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem». E pediu-lhe o anel que trazia no dedo, mergulhou-o na ferida e devolveu-lho como uma herança, deixando-lho como penhor e recordação do sangue. Depois, já exânime, prostrou-se com os outros no lugar destinado ao golpe de misericórdia.
Mas o povo reclamava em alta voz que aqueles que iam receber o golpe final fossem levados para o meio do anfiteatro, porque queriam ver com os seus próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas; os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para o sítio onde o povo os queria, depois de terem dado mutuamente o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.
Todos receberam o golpe da espada imóveis e em silêncio: especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir (na visão de Perpétua) e que foi o primeiro a entregar a alma. Até ao último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir em seus ossos a cutilada, e ela própria guiou até à garganta a mão incerta do inexperiente gladiador. Talvez esta mulher, de quem o espírito do mal se temia, não tivesse podido ser morta de outra maneira do que querendo-o ela própria.
Ó mártires, cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e eleitos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.