Questões e respostas
As dúvidas de um diácono
Gostaria que me ajudassem no esclarecimento de algumas dúvidas quanto à celebração da palavra presidida pelo diácono, ou seja, o que pode ou não ser feito por ele dentro da celebração. Por exemplo: A absolvição sacerdotal depois do acto penitencial pode ser dado por ele? Deve-se ler a oração das oferendas antes do Pai Nosso?
Caro diácono, ter dúvidas é a coisa mais natural deste mundo. Ter a franqueza e simplicidade de perguntar como se resolvem é um dos caminhos possíveis a seguir. O outro seria procurar a solução por si próprio. Este Secretariado gosta de ajudar quem a ele recorre, mas de forma pedagógica. Há um princípio atribuído ao sacerdote belga Joseph Cardijn, fundador da JOC, que aprendi quando era jocista, e que diz assim: Se alguém te pedir um peixe, ensina-o antes a pescar. Vamos então tentar esclarecer as duas perguntas que nos faz, mas de tal modo que, da próxima vez, já seja capaz de encontrar a resposta sem precisar de nós.
Há um livro litúrgico, publicado pela Conferência Episcopal Portuguesa, com o título de "Celebração Dominical na Ausência do Presbítero". É ele que vai ser o nosso guia na caminhada que vamos fazer juntos. Se o tiver à mão siga-me. Se não tiver, não perderia nada em adquiri-lo para si próprio, mesmo que ele exista entre os livros litúrgicos da sua paróquia.
Começo por abrir aquele que tenho entre mãos, na p. 159, onde vem o índice, e verifico o conteúdo de todo o livro: Apresentação, Preliminares, Ritual da celebração presidida por um diácono, Ritual da celebração presidida por um leigo, Apêndice I: Orações Colectas e Orações depois da Comunhão e Apêndice II: Textos para a acção de graças.
É fácil descobrir que o assunto que nos interessa directa e imediatamente é o "Ritual da celebração presidida por um diácono", pp. 25-55, embora haja outro que convenha ter em conta, os Preliminares e dentro destes o capítulo V, que dá pelo nome de Ordenamento da celebração, pp. 15-23, por sua vez dividido em tantas partes quantas são as da celebração da liturgia da palavra presidida pelo diácono: Ritos iniciais, Liturgia da Palavra, Acção de graças, Rito da Comunhão, Ritos de conclusão.
Como a sua primeira pergunta é acerca da "absolvição sacerdotal depois do acto penitencial", vou à página 17, e leio no n. 31: «Com o acto penitencial, a assembleia predispõe-se e purifica-se para ser acolhida pelo Senhor que lhe vai comunicar a sua Palavra e oferecer a graça de participar na Comunhão eucarística. Pode utilizar-se qualquer das fórmulas previstas no Missal Romano, sem omitir a conclusão: Deus todo poderoso...». As palavras acabadas de citar também vêm assim no Ritual. Aqui tem a resposta à sua pergunta. Sim, a conclusão depois do acto penitencial não só pode mas deve ser dita obrigatoriamente pelo diácono que preside a uma celebração da Palavra.
Note, porém, o seguinte: eu não escrevi, como vem na sua pergunta, absolvição sacerdotal, mas sim conclusão, porque é esse o termo utilizado quer no n. 31, acima transcrito, "sem omitir a conclusão", quer na conclusão do acto penitencial, como vem no Ritual: «E o diácono conclui: Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna» (Ritual, p. 30).
Passo à segunda pergunta: "Deve-se ler a oração das oferendas antes do Pai Nosso"? Aqui a resposta é "não". Porquê? Primeiro porque na celebração da liturgia da Palavra por um diácono não há oferenda nenhuma; segundo porque no Ritual destas celebrações não vem indicada nenhuma oração das oferendas, que liturgicamente se chama «oração sobre as oblatas».
Vamos por partes. A grande oferenda ou oferta de Jesus Cristo ao Pai foi a da sua vida, sobre a cruz. Essa oferta não se pode repetir. Foi feita de uma vez para sempre e foi total. Implicou a morte corporal do Filho de Deus.
Essa morte e a ressurreição que se lhe seguiu, não foi só pelo mundo então conhecido nem só pelos homens desse tempo. Foi por todo o mundo e pelos homens de todos os tempos, até ao fim dos tempos. Por nós também, por mim também. A celebração da Missa torna presente, para cada época e para cada homem o grande sacrifício de Jesus, o seu mistério pascal. A Missa não é um novo sacrifício de Jesus, mas o mesmo e único sacrifício do Calvário, que se torna presente para nós, e que a Igreja apresenta ao Pai, em obediência, amor e respeito por aquilo que Jesus disse aos Apóstolos na última Ceia: «Fazei isto em memória de Mim».
A beleza da nossa presença todos os domingos na Missa, sem nos cansarmos, nasce da obediência simples, humilde, agradecida e reconhecida a tal convite. Obediência não forçada, mas alegre, generosa, que nunca diz: "Basta! Mais Missa não". Quem não entendeu isto não admira que se canse de ir à Missa. Quem suportaria ir tantas vezes a um teatro ou a um cinema que tivesse sempre as mesmas imagens e as mesmas palavras? Quem iria por gosto, durante anos e anos, ver as mesmas paisagens que um dia achou magníficas?
Por isso é tão importante descobrir, cada um por si e para si, que a presença na Missa, todos os domingos, não resulta de uma obrigação, nem também do exemplo dado pelos outros. À Missa vai-se por uma necessidade que nasce da fé. O cristão não pode viver sem a Eucaristia, porque não pode viver sem Jesus. Não só sem o Jesus da fé, do Credo, mas sem o Jesus que disse estas palavras: «Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós» (Jo 6, 53). Ora essa carne e esse sangue de Jesus só se tornam realidade quando um bispo ou um presbítero pronunciam, na celebração da Missa, estas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu Corpo; tomai e bebei, este é o cálice do meu Sangue».
Tais palavras e gestos são próprios e exclusivos da Missa. Só na Missa há uma apresentação dos dons, finda a qual, se diz a oração sobre as oblatas, ou seja, sobre os dons colocados no altar. E é sobre esses dons que, depois, o sacerdote diz a Oração eucarística, da qual fazem parte as palavras há pouco citadas, e que foram pronunciadas, a primeira vez, por Jesus, "na noite em que foi entregue, para voluntariamente sofrer a morte".
Ora isso não acontece na celebração da Palavra presidida por um diácono. Aí só se utilizam duas orações: a oração Colecta e a oração depois da Comunhão (cf. Apêndice I, pp. 87-130). A celebração da liturgia da Palavra na ausência do presbítero não é a celebração da Missa. Por isso não contém nenhuma oração sobre as oblatas.
É fácil de verificar o que acabo de lhe dizer. Basta abrir o "Ritual da celebração presidida por um diácono", e ir até à p. 87, onde encontrará o Apêndice I, apenas com orações Colecta e orações depois da Comunhão.
E por aqui me fico, que já não é sem tempo.
Um colaborador do SNL