Questões e respostas

A Confirmação

Eu não sou crismado. Mas tenho lido e feito perguntas sobre o sacramento do Crisma. Falaram-me de dois costumes: o de adoptar um «nome de Crisma», e a declaração da escolha do nosso padroeiro pessoal. Também li que existiu o costume de receber uma ligeira palmada na face, como símbolo de termos passado a ser «soldados de Cristo». Gostava de saber se esses costumes são também próprios de Portugal.

 

As perguntas do nosso consulente giram todas à volta do sacramento da Confirmação, o segundo da lista apresentada pelo Catecismo da Igreja Católica: «Os sacramentos da Nova Lei foram instituídos por Cristo e são em número de sete, a saber: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimónio» (CIC 1210).
Primeira observação: o nosso consulente fala de "sacramento do Crisma" ao passo que o Catecismo fala de "sacramento da Confirmação". Embora se trate da mesma realidade sacramental, é preferível falar de "Confirmação", por uma razão óbvia: este sacramento tem por fim "confirmar" o Baptismo, ao passo que a denominação sacramento do Crisma tem a ver com o óleo com que a unção é feita, o santo Crisma.
O sacramento da Confirmação liga mais perfeitamente os baptizados à Igreja e enriquece-os com uma força especial do Espírito Santo (CIC 1285). Essa ligação mais perfeita à Igreja manifesta-se no facto de os ministros originários da Confirmação serem os bispos, sucessores dos Apóstolos, que receberam o Espírito Santo no Pentecostes.
Estou a tentar dizer-lhe, muito resumidamente, coisas que têm atrás de si uma longa história, cujos inícios estão ligados ao célebre acontecimento narrado pelo livro dos Actos dos Apóstolos, nestes termos: Quando os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tiveram conhecimento de que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes desceram até lá e oraram pelos samaritanos para eles receberem o Espírito Santo. Na verdade, não descera ainda sobre nenhum deles, pois tinham apenas recebido o baptismo em nome do Senhor Jesus. Pedro e João iam, então, impondo as mãos sobre eles, e recebiam o Espírito Santo (Act 8, 14-17).
Temos aqui a raiz do sacramento da Confirmação. O Baptismo, dado por Filipe aos samaritanos, foi confirmado por Pedro e João, enviados, de Jerusalém à Samaria, pelos outros Apóstolos. E estes enviaram-nos porque tinham consciência da plenitude do Espírito recebido por eles próprios no Pentecostes, a fim de confirmaram os seus irmãos na fé. A forma como Pedro e João procederam foi muito simples: oraram pelos samaritanos já baptizados e impuseram-lhes as mãos, e eles receberem o Espírito Santo. Originalmente, portanto, não houve óleo da unção. Foi o Espírito Santo quem ungiu aqueles baptizados, através da oração e imposição das mãos de Pedro e João. Se estes não tivessem recebido anteriormente essa capacidade do próprio Espírito, também não poderiam confirmar a obra iniciada por Filipe, pelo anúncio da palavra de Deus e pelo Baptismo.
As coisas da fé têm como fundamento e suporte a Sagrada Escritura. Lendo-a, meditando-a e ouvindo a explicação autorizada que a Igreja dá a seu respeito, podemos chegar a entender essas realidades invisíveis, mas garantidas pela fé, que é a certeza das coisas que não se vêem.
O sacramento da Confirmação tem uma longa história que não pode resumir-se numa resposta como aquela que estou a dar-lhe. É verdade que houve épocas, quando a influência da Igreja na sociedade era maior do que hoje, em que se podia, no Crisma, mudar o nome, quando este era tão "esquisito" que o próprio baptizado não gostava dele. Também é verdade que a partir do Pontifical de Guilherme Durando, bispo de Mende (França), que exerceu grande influência na maneira de celebrar os sacramentos, os bispos davam a tal pequena bofetada na face do confirmado, gesto que veio a ser interpretado, por alguns comentadores da liturgia, como símbolo do vigor que o candidato era convidado a manifestar, enquanto "soldado de Cristo", denodado, destemido, pronto a dar a vida por Jesus e pela sua Igreja, e a manifestar, sempre que lhe fossem pedidas, as razões da sua fé.
Hoje, após a reforma do rito da Confirmação e da liturgia em geral promovida pelo Concílio Vaticano II, deixou de ser assim. Já não se mudam nomes nem se dão tabefes no rosto dos confirmados. Naqueles tempos mudavam-se os nomes porque podiam ser mudados segundo o gosto de cada qual. Sempre houve recenseamentos. Mas listas permanentes com os nomes dos cidadãos de cada país não existiram habitualmente. Os registos civis em Portugal, e o mesmo se pode dizer na Europa e no mundo inteiro, são coisa recente, com pouco mais de cem anos. Antes, praticamente a única entidade que tinha registos com os nomes dos seus membros era a Igreja. Acontecia isso, segundo testemunhos do séc. III, pela necessidade sentida de guardar a memória, primeiro dos catecúmenos que passavam a "eleitos", a seguir dos "eleitos" que recebiam o Baptismo, mais tarde dos que eram feitos ministros do povo de Deus e por fim dos fiéis leigos que se casavam. A mudança de nome a que alude o nosso consulente, justificava-se por se tratar de algo que dizia respeito a membros da Igreja. Hoje, os nomes, bonitos ou feios, que os pais põem a seus filhos, são coisa que não se muda, a não ser após um processo civil bastante complexo.
Quanto à bofetada, tabefe ou palmada, como queira chamar-lhe, foi assim até 1971, em toda a parte onde se celebrava a liturgia da Igreja católica, desde Portugal ao Japão e desde o Canadá à África do Sul. Mas a partir dessa data, tal gesto desapareceu sem deixar rasto nem memória. Apesar disso, já tenho visto bispos que ainda passam a mão pelo rosto dos confirmados, transformando a antiga "bofetada" numa carícia familiar. Podemos chamar-lhe persistência de hábitos antigos, dos quais nada se diz no Ritual da Confirmação, cujo núcleo essencial é muito breve:
O Bispo humedece o polegar da mão direita no Crisma e traça o sinal da cruz na fronte do confirmando, dizendo: N., recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o Dom de Deus. E o confirmado responde: Amen. O Bispo acrescenta; A paz esteja contigo. Confirmado: Amen.
Aqui tem, caro consulente, a resposta às suas dúvidas e até um pouco mais.


Um colaborador do SNL