Questões e respostas
Morte de um bispo, presbítero ou religioso
Sou sacristão. Conheço o livro “Celebração das Exéquias”, mas não encontro aí nada que me indique como se prepara o funeral de um bispo, de um padre ou de um religioso: como vestir o corpo do defunto, como arranjar o local do velório e outros pormenores. Podem indicar-me um livro onde os possa encontrar?
Caríssimo sacristão: Obrigado pela sua pergunta. Foi a primeira vez que alguém escreveu neste sentido. Devo dizer-lhe que todos os sacristães com quem tenho trabalhado nestes últimos anos foram para mim pessoas encantadoras, organizadas e com um grande desejo de fazer tudo bem. Conheci e lidei com um, até à morte, que se encarregava de tudo o que acontecia na paróquia: escrituração de livros paroquiais, apresentação de contas à Cúria Diocesana, atendimento dos paroquianos. Era cauteleiro de profissão, e tinha uma grande piedade pessoal. Dizia-me a esposa que nunca se deitava sem ir à igreja, ver como estavam as coisas e lá ficava, por vezes, muito tempo.
A sua pergunta tem razão de ser porque, na verdade, há apenas um livro que fala da morte, concretamente em relação Bispo. Ora o que aí se diz pode perfeitamente adaptar-se aos padres e religiosos.
O livro chama-se Cerimonial dos Bispos. Transcrevo as passagens mais importantes do Capítulo VII, que trata da morte e exéquias do Bispo e depois faço os comentários que achar oportunos.
1. Quando o Bispo adoecer, deverá dar exemplo ao seu povo, recebendo os sacramentos da Penitência da Unção dos enfermos e da Eucaristia (1157).
2. Ao aproximar-se a morte deverá pedir e receber o Sagrado Viático (1158).
3. Ao entrar em agonia os cónegos devem recitar junto dele as preces de encomendação e em toda a diocese os fiéis devem orar por ele (1159).
4. Quando o Bispo expirar, digam-se as preces que vêm no Ritual (1160).
5. Depois, revista-se com as vestes de cor roxa e com as insígnias da Missa estacional, incluindo o pálio, mas não o báculo (1160)
6. Até ser transferido para a igreja catedral, exponha-se o seu corpo em lugar conveniente, onde os fiéis lhe possam fazer visita e orar por ele (1160)
7. Junto do corpo ou na igreja catedral celebre-se uma Vigília ou a Liturgia das Horas (1160)
8. Em dia e hora convenientes, convocar-se-á o clero e o povo para a celebração das exéquias na igreja catedral (1161).
9. O corpo do Bispo diocesano defunto será sepultado na igreja catedral da sua diocese (1164).
10. Todas as comunidades da diocese devem orar pelo Bispo defunto, cada uma segundo as suas possibilidades (1165).
Os números que vão entre parêntesis são os do Cerimonial dos Bispos. Como vê, a maior parte das coisas que aí se dizem são de ordem espiritual e algumas, de ordem especificamente corporais. Percebe-se que as de ordem espiritual são as mais importantes: celebração da Penitência, da Unção dos enfermos, da Eucaristia; Sagrado Viático; preces de encomendação junto do agonizante e orações em toda a diocese, nas paróquias, nas comunidades religiosas e por parte dos fiéis.
Como à morte ninguém escapa (nem o rei, nem o bispo nem o papa), quando chegar a hora da Páscoa do Bispo, a primeira coisa a fazer é rezar por ele. Rezar o quê? As preces que vêm no Ritual das Exéquias.
Depois vêm os cuidados da higiene corporal do defunto e da roupa a vestir-lhe. Revista-se o defunto com as vestes de cor roxa e com as insígnias que usava na Missa estacional, que é a mais solene de todas. A morte é a última celebração solene em que ele toma parte. Só não levará consigo o báculo, símbolo do seu múnus pastoral, porque esse será continuado por outro.
Uma vez revestido e colocado no féretro, exponha-se num lugar adequado onde os fiéis possam fazer-lhe visita e orar por ele. Quando chegar o dia e a hora convenientes, celebrem-se as exéquias na igreja catedral. Por fim sepulte-se o corpo do defunto ou na igreja catedral, ou noutro lugar que ele tenha indicado.
Concluo desta maneira. Em vida, o Bispo foi o modelo do rebanho. O Cerimonial fala dos cuidados a ter com ele na doença, na morte e na sepultura. Esses cuidados são um modelo a ter em conta na morte de um fiel leigo, de um religioso ou de um padre, mudando-se apenas o que houver a mudar.
O esquema é aquele que todos nós conhecemos por experiência nas nossas famílias. Quando alguém morre trata-se em primeiro lugar da higiene corporal do defunto. A seguir veste-se-lhe a roupa melhor que ele usara em vida, e chama-se a agência que tratará do caixão e de outros pormenores de ordem civil. Em seguida o corpo ficará em casa da família (infelizmente cada vez mais raro) ou será levado para a casa mortuária, a fim de ser velado pelos familiares e amigos. No dia seguinte, á hora combinada, realizar-se-ão as exéquias na igreja e o funeral para o cemitério.
Aqui tem, caro consulente, o que se me oferece dizer-lhe. Diga-me se o esclareci ou confundi ainda mais, ou se precisa de alguma explicação suplementar.
Um colaborador do SNL