Questões e respostas

O Corporal

Os corporais costumam ter, no centro de uma das faces, uma cruz bordada. Na minha Paróquia sempre foi costume colocar a cruz voltada para o povo. Há dias o Pároco disse ao diácono e aos acólitos que a cruz do corporal devia estar voltada para ele. Podem ajudar-me a descobrir qual é o modo mais correcto de proceder?

 

Vou responder-lhe com a maior brevidade possível, pois o assunto é um pormenor sem qualquer relevância, e sobre o qual nada se diz em nenhum documento da última reforma litúrgica.

Ao consultar a Instrução Geral do Missal Romano damo-nos conta de duas coisas: não se diz o que os corporais são, mas diz-se para que servem, quem os pode colocar no altar e retirar, e quando. O mesmo acontece a quem consulta o Cerimonial dos Bispos.

A Celebração das Bênçãos, no Capítulo XXXII, dedicado à Bênção dos objectos e vestes que se usam nas celebrações litúrgicas, diz o seguinte: “Entre as coisas que se destinam ao culto sagrado, há algumas que merecem uma atenção especial. Por isso é conveniente que sejam benzidas antes de serem usadas… Convém benzer a píxide, a custódia, os paramentos, bem como os corporais e as toalhas que normalmente são usados nas celebrações litúrgicas” (nn. 1068 e 1070).

Este conjunto de indicações leva-nos a uma primeira conclusão: dado que os corporais se destinam a colocar sobre eles a patena com o Corpo do Senhor e o cálice com o Sangue, é conveniente benzê-los.

A segunda conclusão poderá ser esta: se alguém quiser saber, à luz dos documentos da última reforma litúrgica, quais a forma e dimensões de um corporal, pormenor que tem a sua importância, não encontrará a mínima indicação em qualquer dos documentos citados, nem tão pouco acerca do material de que devem ser feitos e se devem ter ou não ter uma cruz no centro de uma das faces, ou para que lado deve ficar voltada a parte do corporal que leva essa cruz, quando o ministro o desdobra no altar.

Note-se, aliás, que o mesmo acontecia antes da reforma litúrgica promovida pelo Vaticano II, sinal de que os documentos doutras épocas também eram omissos sobre o assunto. A título de exemplo vou citar-lhe o que dizia sobre o tema, o mais célebre liturgista português, D. António Coelho, no seu compêndio Curso de Liturgia Romana, n. 200):

“Corporal. É provável que nos primeiros tempos os sacerdotes se servissem duma só toalha, que simultaneamente cobria o altar e as oblatas, o sudarium, que deu origem à toalha do altar e ao corporal. O corporal, assim chamado por ter de envolver o Corpo do Senhor, era bastante grande, para poder receber as oblações dos fiéis. Por documentos do século XI se vê que a parte posterior do corporal era levantada e dobrada sobre o cálice, e nalguns lugares era utilizado um outro pano dobrado para cobrir o cálice. Tal é a origem da pala. Mas, embora separada, a pala continuava a ser conside­rada como uma porção do corporal, a sua continuação.

O corporal deve ser quadrado e bastante grande (pelo menos 45x45 cm.) para que nele se possa pôr a hóstia, o cálice e, eventualmente, algumas partículas ou a píxide. Deve ser de linho ou de cânhamo, branco, sem bordado algum, nem de ouro nem de seda, no meio (Ritus, 1, 1). Deve ser benzido. É tolerado cercar o corporal duma pequena renda, que não faz parte dele. Querem alguns que se coloque uma cruz, de ordinário vermelha, no quadrado do meio da parte anterior, para o Celebrante colocar a hóstia sempre no mesmo lugar. Esta cruz não é prescrita e tem até o inconveniente de não deixar recolher facilmente os fragmentos. Pode-se conseguir o mesmo resultado dobrando o corporal sempre da mesma maneira: isto é, primeiro a parte que está do lado do Celebrante, depois a parte oposta, em seguida o quadro que fica à mão direita, e por fim o da esquerda. Para o desdobrar, segue-se a ordem inversa”.


(ver imagem no boletim)

Representação esquemática da explicação de D. António Coelho, na qual o seu pároco se terá baseado para as indicações que deu ao diácono e aos acólitos. O quadrado onde está a cruz está do lado do Celebrante

Não vou dizer mais nada nem tirar mais nenhuma conclusão. Deixo para si esse trabalho.


Um colaborador do SNL
(BPL 143-144)