Questões e respostas
Deficiências acústicas da igreja e projecção dos textos
Como as condições acústicas da igreja da nossa paróquia são más, as pessoas surdas pela idade ou por doença queixavam-se de que não conseguiam entender a maior parte do que fora dito na Missa. Perante este facto, o senhor Padre resolveu fazer o que já se pratica muitas vezes com as crianças e os escuteiros: projectar todo o decorrer da Missa... Porém, a partir de certo domingo, o senhor padre só projectou as letras dos cânticos que preparámos, a 1ª leitura, o Salmo Responsorial e a 2ª leitura... Tentei saber se havia alguma problema técnico e fui informado de que um sacerdote... lhe havia dito que não podia fazer a projecção... Por isso, solicito o seguinte esclarecimento: Há algo na Sacrosanctum Concilium ou nas orientações posteriores da Igreja Universal para a Liturgia que impeça a projecção das leituras e orações da Missa? Se sim, o quê? Tudo? Alguma parte em especial? Agradeço o vosso esclarecimento sobre estes pontos ou outros que queirais dar. Estamos a fazer tudo o que podemos e sabemos para que as nossas Eucaristias sejam vividas, com o sacerdote a cantar o que lhe pertence, o coro a cantar os cânticos, sempre que possível, próprios para o momento e dia (escritos pelos nossos liturgistas e publicados ou recomendados pelo SNL) a fim de que todas as pessoas (mais velhas ou mais novas) sintam que são Igreja comunhão.
Se bem entendo, o problema que pôs resulta da má acústica da igreja da sua paróquia. É isso que está na origem das soluções procuradas pelos responsáveis das celebrações litúrgicas que aí têm lugar. Desejo sinceramente que as encontrem. Mas também faço votos para que elas sejam boas liturgicamente falando.
Em qualquer assembleia há sempre um número maior ou menor de pessoas que escutam mal o que se diz ou o que se lê. A primeira tentativa de resposta a esse problema, que é real em toda a parte, deve consistir em melhorar a qualidade da sonorização do espaço, mas, sobretudo, a qualidade da dicção de quem lê ou de quem fala. Há muito trabalho a realizar nestes dois campos, sobretudo no último.
Diz o nosso consulente que, perante os factos apontados, o senhor Padre resolveu fazer o que já se pratica muitas vezes com as crianças e os escuteiros: projectar todo o decorrer da Missa. Devo dizer que uma coisa são as normas das Missas com crianças, outras as das Missas dominicais para uma assembleia paroquial. De facto, há normas específicas para aquelas, que não podem ser aplicadas nestas. Para ter mais informação sobre o caso das Missas com crianças, pode consultar, se quiser, o Enquirídio dos documentos da reforma litúrgica, editado pelo SNL, onde vem publicado o Directório dessas Missas. Posso adiantar, desde já, o que aí se diz acerca dos elementos visuais:
«35. A liturgia da missa contém em si mesma muitos elementos visuais a que é necessário atribuir a máxima importância junto das crianças; isto é válido sobretudo para os elementos visuais específicos que surgem ao longo do ano litúrgico, como sejam a adoração da cruz, o círio pascal, as velas da festa da Apresentação, a diversidade das cores e das vestes litúrgicas.
Além dos elementos visuais inerentes à própria celebração e ao local onde decorre, introduzam se oportunamente outros elementos que permitam às crianças atingir visualmente as grandes obras da criação e da redenção realizadas por Deus, e apoiem a oração com elementos visuais. A liturgia nunca deve aparecer como uma coisa árida e puramente intelectual.
36. Pelo mesmo motivo, o emprego de imagens preparadas pelas próprias crianças pode igualmente ser útil; por exemplo, para ilustrar a homilia para realçar visivelmente as intenções da oração universal, para inspirar a meditação».
Chama-se a atenção para o facto de nada aqui se dizer sobre a hipótese de projectar o texto das leituras ou das orações presidenciais.
Respondo agora, mais directamente, às perguntas por si formuladas: “Solicito o seguinte esclarecimento: Há algo na Sacrosanctum Concilium ou nas orientações posteriores da Igreja Universal para a Liturgia que impeça a projecção das leituras e orações da Missa? Se sim, o quê? Tudo? Alguma parte em especial?”.
Pela parte que me toca, não conheço nenhuma norma que o impeça, mas também não conheço nenhuma que o ordene ou que o aconselhe, nem na Sacrosanctum Concilium nem noutro qualquer documento posterior da reforma litúrgica.
O que está dito, com toda a clareza é que as leituras proferidas pelos leitores e as orações ditas pelo presidente sejam proclamadas e escutadas, e não está dito que o respectivo texto seja projectado e visto num “écran”, para obviar às deficiências acústicas de uma igreja. A tal respeito, a Instrução geral do Missal Romano, diz, na sua última edição típica: «As leituras da palavra de Deus, que oferecem à Liturgia um elemento da maior importância, devem ser escutadas por todos com veneração» (n. 29); «O carácter das (orações presidenciais) exige que elas sejam proferidas em voz alta e clara e escutadas por todos com atenção» (n. 32).
Parece-me que, numa igreja com deficiências acústicas, o que deve é investir-se na melhoria da sonorização e em proclamações cada vez mais cuidadas, por parte de todos os que as fazem, leigos e clérigos. Todos sabemos que não é a mesma coisa escutar a voz daquele que proclama bem uma leitura ou uma oração, e seguir com os olhos o respectivo texto, impresso, por exemplo, num missal dos fiéis. Tal solução limite apenas se justifica no caso daquelas pessoas que, como refere na sua pergunta, ficaram «surdas pela idade ou por doença». Mas não vamos, para responder a uma necessidade particular, projectar o texto para toda a assembleia.
Sempre que numa igreja a acústica é deficiente ou mesmo má, o que se impõe é o recurso a soluções de fundo ao nível da sonorização desse espaço celebrativo.
Diz, na sua consulta, que o seu pároco resolveu «projectar todo o decorrer da Missa». Isso ajuda, sobretudo quando os participantes têm dificuldade em ver o que se passa no presbitério, ou quando há obstáculos de vulto a uma boa visibilidade, como é o caso das grossas colunas de algumas catedrais. Penso que não é esse o caso da sua igreja. De qualquer modo, não é a mesma coisa transmitir imagens da celebração, do princípio ao fim, e projectar o texto que está a ser proclamado pelos leitores, ou as orações que são ditas pelo presidente. Penso que a projecção visual, no âmbito das celebrações litúrgicas, deve ser de imagens expressivas tiradas da própria celebração ou de pormenores colhidos, com arte e com gosto, de entre os elementos que fazem parte do espaço celebrativo: a cruz, as imagens, o altar, a cadeira presidencial, o ambão, o livro das leituras, o sacrário, a assembleia, etc.
Vou dar-lhe uma sugestão: convide o seu pároco a visitar a igreja matriz de..., onde foi encontrada uma óptima solução para um problema de deficiência acústica. Neste momento, com um único altifalante na igreja, cada pessoa, quer esteja junto dele quer muito afastada, escuta o som com a mesma intensidade e clareza.
Diz o nosso consulente, a terminar: “Estamos a fazer tudo o que podemos e sabemos para que as nossas Eucaristias sejam vividas, com o sacerdote a cantar o que lhe pertence, o coro a cantar os cânticos, sempre que possível, próprios para o momento e dia (escritos pelos nossos liturgistas e publicados ou recomendados pelo SNL) e todas as pessoas (mais velhas ou mais novas) sintam que são Igreja comunhão”.
O Secretariado Nacional de Liturgia dá-vos os parabéns e incita-vos a procurardes melhorar a acústica da vossa igreja, para que a “audição” não seja o parente pobre das vossas celebrações.
Um colaborador do SNL