Questões e respostas
Recolha da colecta
Tenho uma dúvida que ultimamente tem sido falada na minha paróquia. Quando não há missa, mas somente a celebração da palavra de Deus com distribuição da Sagrada Comunhão, deve- -se fazer a colecta (recolha do dinheiro)? Se sim, em que momento...
É sempre útil recordar as coisas mais simples e mais antigas da Igreja a propósito dos problemas de hoje. Sobre o assunto que me coloca, o que posso dizer, resumidamente, é que S. Paulo fala muito de uma colecta por ele organizada para a comunidade pobre de Jerusalém: «Quanto à colecta em favor dos santos, fazei vós também o que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar, para que, à minha chegada, não se tenha ainda de fazer a colecta. Quando aí chegar, enviarei, munidos de cartas, aqueles que tiverdes escolhido para levar a vossa oferta a Jerusalém. E, se convier que eu vá também, farão a viagem comigo» (1 Cor 16, 1-4).
Como vê, esta colecta era em favor dos santos, quer dizer, dos fiéis de Jerusalém. Paulo diz aos Coríntios que façam isso no «primeiro dia da semana» , ou seja no domingo. Nesse tempo não havia igrejas. As celebrações litúrgicas tinham lugar nas casas dos fiéis. Era aí que as ofertas deviam ser recolhidas e guardadas, para que o Apóstolo, ao chegar da sua viagem, não se demorasse muito na recolha do que cada um tivesse conseguido poupar. Vê-se que tais ofertas não eram ninharias, mas coisas que representavam, pelo menos para alguns, bastante sacrifício. Que reuniões eram essas? Eucarísticas ou só da Palavra? Certamente de ambas.
No ano 160 da nossa era, um cristão chamado Justino, ao falar do modo como se celebrava a Missa, no domingo, na cidade de Roma, diz o seguinte: «Os que vivem em abundância e querem repartir, dão, cada um o que lhe apraz e parece bem. E o que se recolhe é deposto aos pés daquele que preside, e ele, por seu turno, presta assistência aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos pobres, aos prisioneiros, aos estrangeiros de passagem, numa palavra, a todos os que sofrem necessidade» (S. Justino, Apologia I, n. 67).
Estamos em Roma, no tempo das perseguições. Justino esconde os nomes das pessoas. Percebe-se que «aquele que preside» é o Bispo da comunidade, neste caso o Papa. Fico-me por estes dois casos, para dizer que as colectas na Igreja são tão antigas como ela própria.
Que diz a Igreja hoje sobre as ofertas dos fiéis, na celebração da Eucaristia? A IGMR refere-se a elas nos números 73 e 140, que vou transcrever:
«Em seguida são trazidas as oferendas. É de louvar que o pão e o vinho sejam apresentados pelos fiéis. Recebidos pelo sacerdote ou pelo diácono em lugar conveniente, são depois levados para o altar. Embora, hoje em dia, os fiéis já não tragam do seu próprio pão e vinho, como se fazia noutros tempos, no entanto o rito desta apresentação conserva ainda valor e significado espiritual. Além do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro e outros dons, destinados aos pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja. Estes dons serão dispostos em lugar conveniente, fora da mesa eucarística» (IGMR 73).
«Convém que a participação dos fiéis se manifeste pela oferta quer do pão e do vinho destinados à celebração da Eucaristia, quer de outros dons destinados às necessidades da Igreja e dos pobres. As ofertas dos fiéis são recebidas pelo sacerdote com a ajuda do acólito ou de outro ministro. O pão e o vinho destinados à Eucaristia são levados ao celebrante, que os depõe sobre o altar; os outros dons são colocados noutro lugar conveniente» (IGMR 140).
Tudo isto é muito claro. Na Missa, terminada a Oração dos Fiéis, os fiéis são convidados não já a trazer do seu pão e do seu vinho, pois isso seria muito incómodo para eles, mas a entregar ofertas em dinheiro e outros dons. Estas ofertas têm um destino, os pobres e a própria Igreja, facto que não costuma estar muito claro na mente dos cristãos. Alguns pensam que tais ofertas são para o próprio sacerdote, o que não é verdade. Mas tal engano sobre o destino de tais dons, faz com que a generosidade de cada um se fique pelas ruas da amargura.
Respondo agora à sua pergunta: quando não há Missa mas somente a celebração da palavra de Deus com distribuição da Sagrada Comunhão, deve-
-se fazer a colecta (recolha do dinheiro)? Sem dúvida. A oferta não deve estar ligada à Missa mas à reunião dominical. Já vimos que era assim no tempo de S. Paulo e no de S. Justino. Porque haveria de ser diferente, hoje?
Uma razão de sobra para proceder desse modo está no facto de muitas vezes essas celebrações serem presididas por um Diácono permanente ou por algum fiel nomeado pelo Bispo, e que teve de fazer vários quilómetros. Será que as comunidades em causa sabem que esses ministros vêm fazer a celebração a expensas deles próprios? Não seria bom que a comunidade local lhes oferecesse o equivalente à gasolina que gastam, e que isso fosse retirado dessas ofertas? Nós às vezes somos bastante injustos ou pelo menos descuidados nestas coisas.
Se sim, em que momento...? Naquele que der mais jeito, mas normalmente o momento indicado é a saída, antes ou depois dos avisos finais. É a sugestão que apresenta o Ritual da Celebração Dominical na Ausência do Presbítero: «Fazem-se neste momento breves avisos e dão-se as notícias relativas à vida paroquial ou diocesana. Pode também referir-se a finalidade de uma eventual colecta que, a fazer-se, terá lugar no fim da celebração, à medida que os fiéis saem da igreja, mas nunca a meio da celebração, entre a Liturgia da Palavra e o Rito da Comunhão» (nn. 28 e 53).
Um colaborador do SNL
(BPL 137-138)