Questões e respostas

Colocação do ambão

Li o vosso artigo e a IGMR sobre o lugar do ambão na igreja. Acontece que, na minha paróquia, as comunidades neocatecumenais colocam o ambão, ao centro, à frente da cadeira presidencial e por detrás do altar, tudo em linha recta. Confesso que me desagrada muito ter, durante toda a liturgia da palavra, as pessoas sempre de costas para o presidente da celebração. Estará correcto este posicionamento do ambão? Que posso fazer?

 

A Constituição sobre a sagrada Liturgia (04.12.1963) não utilizou a palavra "ambão". Mas não tardou que o termo aparecesse, logo no primeiro documento para uma correcta aplicação da reforma litúrgica, conhecido pelo nome de Inter Oecumenici (26.09.1964), onde a referida palavra se utiliza para afirmar que, na Missa, todas as leituras se fazem de frente para o povo, no ambão ou à balaustrada e da conveniência em haver, nas igrejas, um ambão, ou ambões, para a proclamação das leituras.
Esclareço que, antes da actual reforma, as leituras eram feitas pelo sacerdote, em latim, no altar, de costas voltadas para o povo, e que a balaustrada era uma grade, de madeira ou alvenaria, que marcava a separação entre a nave e o presbitério, e servia para a comunhão dos fiéis. Tal balaustrada desapareceu quase completamente das nossas igrejas e nenhum documento voltou a falar dela. No que se refere aos ambões, foi esta a única vez que tal palavra apareceu num documento da reforma. Por força do citado documento, mudaram duas coisas: as leituras passaram a fazer-se de frente para o povo, de preferência no ambão, que deve começar a existir nas igrejas.
A partir da Inter Oecumenici, todos os documentos da reforma litúrgica, sem qualquer excepção, afirmam que, na celebração da Missa com o povo, as leituras cantadas ou lidas, os versículos do salmo e o precónio pascal se proclamam sempre do ambão, princípios sintetizados de forma lapidar pela Instrução Geral do Missal Romano do seguinte modo: «Do ambão são proferidas unicamente as leituras, o salmo responsorial e o precónio pascal. Podem também fazer-se do ambão a homilia e proporem-se as intenções da oração universal. A dignidade do ambão exige que só o ministro da palavra suba até ele» (IGMR 309; EDREL 1219). Deste texto conclui-se que há acções litúrgicas que têm o seu lugar próprio no ambão e outras que, embora podendo fazer-se do ambão, não é este o seu lugar próprio. Devo acrescentar que a prática corrente não faz distinção entre estas várias funções do ambão, pois é dele que, habitualmente, na Missa, se lêem todas as leituras da Sagrada Escritura, se canta o salmo responsorial e o precónio pascal, se faz a homilia e se proclamam as intenções da oração dos fiéis. Só por excepção assim não é, dado ser o ambão o lugar mais adaptado para o fazer.
O que é afinal o ambão? Da leitura atenta dos vários documentos que falam nele, conclui-se que a palavra tem dois significados. Antes de mais, o ambão é um lugar: «A dignidade da palavra de Deus requer que haja na igreja um lugar adequado para a sua proclamação e para o qual, durante a liturgia da palavra, convirja espontaneamente a atenção dos fiéis» (IGMR 309; EDREL 1219). Enquanto lugar adequado para a proclamação da palavra de Deus, o ambão deve ter um certo distanciamento espacial quer da cadeira do presidente da celebração quer do altar, o que nem sempre será possível, dada a exiguidade característica do espaço dos presbitérios nas igrejas construídas antes da reforma litúrgica, que são a grande maioria. Tal distanciamento ajuda os fiéis a dirigir espontaneamente a atenção para o lugar da leitura, durante a liturgia da palavra, centrando-se particularmente nele.
Mas o ambão não é apenas um lugar espacial. É também um objecto acessório, que faz parte desse lugar: «Em princípio, este lugar deve ser um ambão estável e não uma simples estante móvel. Tanto quanto a arquitectura da igreja o permita, o ambão dispõe-se de modo que os ministros ordenados e os leitores possam facilmente ser vistos e ouvidos pelos fiéis» (Ibidem). O ambão, neste segundo sentido, é um objecto estável, com algum volume e peso, feito de mármore, de granito ou de madeira, e não uma simples estante móvel.
Do conjunto da documentação litúrgica publicada após a Constituição, ressalta uma imagem simultaneamente bela e exigente do ambão, que deve ser um lugar elevado, amplo e fixo, «esculturalmente em harmonia estética com o altar, de modo a representar mesmo visivelmente o sentido teológico da dupla mesa da Palavra e da Eucaristia» (Verbum Domini 68; EDREL 6683). Seja-me permitido fazer uma comparação: assim como a dignidade da Eucaristia requer que a consagração do pão e do vinho se façam habitualmente numa igreja e sobre o altar, assim a dignidade da palavra de Deus requer, dentro da igreja, um espaço e um móvel adequado para a sua proclamação.
A distinção e nobreza do ambão, acompanhadas de uma iluminação suficiente a uma boa leitura e dos instrumentos técnicos modernos para que o leitor se faça ouvir facilmente pelos fiéis, ajudam a realçar a dignidade da palavra de Deus que aí se proclama. Quando a beleza, os meios técnicos postos ao serviço dos leitores e, sobretudo, a qualidade das leituras se dão as mãos, os primeiros beneficiados são os fiéis, ao descobrirem que a mesa da palavra de Deus está preparada com esmero para que dela recebam os melhores frutos (cf. OLM 32; EDREL 2847).
A partir destas afirmações, que a prática litúrgica mostra estarem ainda longe da realidade quotidiana, vou reflectir sobre o que o nosso consulente diz no seu e-mail. Creio ter deixado claro, pelo que escrevi até este momento, que a palavra ambão tem dois sentidos: lugar adequado à proclamação e objecto litúrgico fixo com algum peso e volume donde essa proclamação se faz. No seu e-mail, não é deste ambão que me fala, mas sim de uma simples estante móvel, apesar de escrever sempre ambão. Imagino, por isso, que a igreja a que se refere tem um lugar próprio donde se fazem habitualmente as leituras, e que a estante móvel é colocada entre a cadeira do presidente e o altar apenas quando aí se reúne uma comunidade do Caminho Neocatecumenal. Seria interessante dialogar com os responsáveis dessa comunidade para entender o sentido de um tal modo de proceder. Não creio que o façam só por fazer. E não nos fica mal, sempre que vemos na liturgia acontecer algo que nos chama a atenção, perguntar porquê. A prática litúrgica está longe de ser unívoca. A sua história mostra exactamente o contrário. No entanto, as normas litúrgicas actuais do rito romano são as mesmas para todos os fiéis desse rito, a não ser que, por alguma concessão especial, determinados grupos estejam autorizados a fazer de outro modo.
Diz-me também: «Confesso que me desagrada muito ter, durante toda a liturgia da palavra, as pessoas sempre de costas para o presidente da celebração». Penso que onde escreveu pessoas queria escrever leitores. De facto, também a mim me parece um pouco forçado. O distanciamento do ambão em relação ao lugar da presidência e, sobretudo, a sua posição lateral, à direita ou à esquerda da assembleia, atenua, como sabemos, essa sensação.
Por fim, quase que em desabafo, pergunta: «Estará correcto este posicionamento do ambão? Que posso fazer?». Respondo-lhe assim: tal posicionamento não está correcto se o ponto de referência forem os documentos da liturgia já citados; mas poderá estar, se houver outras normas particulares que o justifiquem. Mas isso não o sei. Sei apenas que, no ano 2005, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos enviou uma Carta, aos responsáveis maiores do Caminho Neocatecumenal, abordando assuntos relacionados com a celebração da Eucaristia, na qual se lê, entre outras coisas, o seguinte: «Na celebração da Santa Missa, o Caminho Neocatecumenal aceitará e seguirá os livros litúrgicos aprovados pela Igreja, sem nada omitir nem acrescentar... » (EDREL 6531). Em princípio, parece que também a disposição do lugar celebrativo aqui estará incluída. Que posso fazer? Recomendo-lhe a leitura e meditação desta passagem da Carta de S. Paulo aos Efésios: «Exorto-vos a que andeis de maneira digna do chamamento que recebestes, com toda a humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros com caridade, solícitos em conservar a unidade de espírito, mediante o vínculo da paz» (Ef 4, 1-3).

Um colaborador do SNL