Questões e respostas
Bênção das Velas de São Brás
Verifiquei que tradicionalmente havia a benção de São Brás. Ainda é oportuno que se use?
1. São Brás, bispo de Sebaste, na Arménia (hoje Sivas, na Turquia), padeceu o martírio em 316, sob o mandato do imperador Licínio, durante o período de contraste e guerra que opôs este imperador a Constantino. É celebrado tanto no Oriente como no Ocidente. A memória litúrgica (facultativa) de São Brás está inscrita no Calendário Geral a 3 de fevereiro. Até à reforma litúrgica estava também incluído na festividade dos «14 santos auxiliadores», invocados para a cura de doenças específicas, a 8 de agosto Em Portugal contam-se por dezenas as igrejas, capelas e ermidas onde este mártir é especialmente invocado.
Entre os relatos dos seus milagres narra-se que salvou uma criança de morrer sufocada pela ablação de uma espinha de peixe que ela tinha na garganta. Por esse motivo, passou a ser invocado como especial advogado para os males de garganta. E convém ter presente que, nos tempos em que não havia nem antibióticos nem anti-inflamatórios, as doenças de garganta durante o Inverno eram um perigo sempre à espreita e, por vezes, mortal. As vítimas mais frequentes eram crianças. E, assim, o culto de São Brás expandiu-se imenso, sobretudo a partir do momento que as suas relíquias foram trazidas por refugiados arménio para o ocidente (século VIII).
No dia de São Brás, 3 de fevereiro, tornou-se tradicional uma especial bênção das gargantas dos fiéis dada pelo pároco com o instrumento de duas velas cruzadas sob o queixo e encostadas ao pescoço dos devotos. Não é de excluir que a proximidade da Festa da Apresentação do Senhor (2 de fev.) com a correspondente bênção das velas tenha influenciado e até «contaminado» esse costume na festa de São Brás (3 de fev.).
2. O Rituale Romanum de Paulo V (as últimas edições típicas são de 1925 e de 1953) prevê no seu De Benedictionibus a «Benedictio Candelarum in festo S. Blasii Episcopi et Martyris. Na editio typica de 1953 era o n. 7 do cap. III do Título IX do Rituale. A bênção consta principalmente de uma oração para a bênção das velas em honra de São Brás, seguindo-se uma «aplicação» individual em que o sacerdote tocava com duas velas cruzadas a garganta da pessoa, ao mesmo tempo que recitava uma fórmula mais breve: «Por intercessão de São Brás, Bispo e Mártir, livre-te Deus do mal de garganta e de qualquer outro mal. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».
3. O «De Benedicionibus» saído da Reforma Litúrgica não manteve essa bênção. Talvez porque estamos em tempos de aspirina e antibióticos! O Diretório sobre a Liturgia e a Religiosidade Popular também a ignora. Mas a tradição popular subsiste em várias regiões.
O Bendizionale Italiano (Libreria Editrice Vaticana 1992) prevê uma genérica «Bênção para a salvaguarda da saúde numa memória da Virgem Maria ou de um Santo» (Benedizione per la Salvaguardia della Salute in una memoria della Vergine Maria o di un Santo) (pp. 795-803). Entre os Santos, menciona-se expressamente São Brás. A bênção pode celebrar-se inserida na Missa ou não. Após as preces recita-se uma oração de bênção após a qual o ministro traça o sinal da cruz sobre os presentes ao mesmo tempo que pronuncia uma fórmula (« O Senhor misericordioso, por intercessão de [... São Brás, nosso padroeiro...] vos conceda a saúde do corpo e a consolação do espírito. Amen.». Uma rubrica acrescenta que os fiéis podem aproximar-se do altar; o ministro aproxima-se de cada um com a relíquia ou um outro sinal de bênção – por ex., para o São Brás encosta duas velas cruzadas sobre o queixo até à garganta de cada – conforme os costumes locais (p. 801).
4. Nada disto existe no Ritual Celebração das Bênçãos português que, neste ponto, se limita a seguir a edição típica latina. O que melhor se poderá prestar a uma prática do género talvez seja o rito previsto no cap. XXXVI: «BÊNÇÃO DE BEBIDAS, ALIMENTOS E OUTRAS COISAS POR MOTIVO DE DEVOÇÃO». Entre as «outras coisas» estão previstas as velas. A celebração deve ter em conta «as tradições e narrativas da vida dos Santos que eventualmente possam ilustrar a origem ou o sentido peculiar da bênção concedida em sua honra» (n. 1139). A 2ª opção de oração de bênção (n. 1153) parece mais adequada e adaptável. No final, após uma oração sobre o povo (o Ritual prevê duas opções), nada proíbe algum gesto na linha da prática antiga.
Resposta dada por um membro do SNL
(Publicado no BPL 189-192)